Algumas das questões mais frequentes que recebemos, incluem:
- "Como faço para perder essa 'gordurinha' do abdome?"
- "Eu malho todos os dias e tenho alimentação equilibrada, mas
porque não emagreço na barriga?"
Dentre outras questões que tantas vezes ouvimos e, até certo ponto,
gostaríamos de ter frases "prontas" para responder.
O problema é que grande parte das pessoas tem o errôneo entendimento
de que a única maneira de perder a gordura localizada no abdome é
com exercícios abdominais.
Longe de conter a verdade absoluta sobre os efeitos do treinamento com
abdominais, o objetivo deste tópico é iniciar um esclarecimento
sobre o verdadeiro funcionamento do organismo nestes exercícios,
demonstrando seus efeitos, além da interferência de outros fatores
no processo de "queima" da gordura abdominal.
Então Vamos ao Que Interessa!
Em primeiro lugar, devemos ter em mente que o processo de acúmulo
de tecido adiposo na região abdominal é parte da ação evolutiva à
qual o humano é submetido há milhares de anos. Isso é indiscutível!
Bem como o fato dos homens terem mais facilidade em acumular
gordura abdominal do que as mulheres, em função de razões hormonais
e genéticas mediadas pela própria evolução da espécie.
O aparecimento dessa "barriga" nos homens pode ser caracterizada como
obesidade andróide (tipo maçã).
Nas mulheres, a gordura em excesso acaba sendo melhor distribuída
pelo corpo, acumulando-se nas coxas e principalmente nos quadris,
caracterizando obesidade genóide (tipo pêra).
Isso, por si só, gera no indivíduo masculino maior suscetibilidade
aos problemas cardíacos em comparação ao gênero feminino.
A gordura situada no tronco e abdome, principalmente
intra-abdominal (visceral), promove maior risco para as
complicações metabólicas que o excesso de gordura em outras regiões
do corpo (Hunter et al., 2002).
Em segundo lugar, vários são os fatores capazes de fazer uma pessoa
engordar ou emagrecer, contudo, vamos revisar rapidamente uma
fórmula básica para esse processo recíproco:
- Se a Ingestão Calórica for MAIOR que o gasto energético diário,
o indivíduo irá ACUMULAR o excesso de energia em forma de gordura.
- Se a Ingestão Calórica for MENOR que o gasto energético diário,
a pessoa irá PERDER o tecido adiposo de reserva. Por conseqüência,
tende a emagrecer.
Leve em consideração que esse é um princípio básico, natural, a que
a maior parte das pessoas está pré-disposta.
No caso dos indivíduos com algum distúrbio metabólico, que ingerem
medicamentos ou que passam por crises psíquicas (incluindo a
depressão), esta fórmula pode ser nula em alguns aspectos, pois
como será visto, podem ser outros os fatores responsáveis pelo
aumento/perda da gordura corporal.
De qualquer forma, é importante atermo-nos primeiramente ao fator
Exercício Físico!
Os exercícios abdominais, basicamente são responsáveis por
fortalecer a musculatura da região abdominal. Isso, por si só,
gera-nos a IMPRESSÃO de que a gordura que existe na região começa a
desaparecer.
Esses exercícios auxiliam na diminuição da gordura corporal total,
e não apenas na região do abdômen.
É comprovado (de maneira lógica) que o contributo de um abdome
fortalecido gera maior facilidade na queima de gordura corporal
como um todo.
Da mesma forma que até certo ponto, com um abdome
mais forte outros exercícios são realizados com melhor qualidade;
exercícios de peitoral, tríceps e bíceps, agachamento, dentre
outros, beneficiam-se muito de uma musculatura abdominal bem
desenvolvida.
No entanto, é enganosa a idéia de que os exercícios abdominais são
suficientes para causar a perda daquela gordura localizada na
região e que, para isso, basta que sejam feitas dezenas ou centenas
de abdominais por dia... esse é um erro muito comum em nossa
sociedade.
De maneira empírica (ou seja, sem caráter científico), tive a
experiência de observar pessoas que NÃO faziam exercícios
específicos para o abdômen e que, porém, possuíam a musculatura
abdominal muito mais desenvolvida do que pessoas que passavam horas
seguidas realizando "milhares de abdominais".
O segredo consistia no fato de que aquelas pessoas (que não faziam
abdominais) realizam as séries dos outros grupos musculares com tal
intensidade, que o abdômen acabava fortalecendo-se paralelamente
aos outros músculos do corpo, evidenciando que este músculo é muito
trabalhado durante os exercícios de membros superiores (tríceps,
bíceps e ombro) alguns inferiores.
Isso demonstrou que a fórmula para o emagrecimento consiste
principalmente na relação de dois itens: "Gastar mais energia
(exercício) do que se ingere (alimentação)". Isso é primordial!
Aí entram todos aqueles fatores: a genética; intensidade, duração e
tipo de treinamento; distúrbios hormonais; ansiedade, estresse e
outros fatores psíquicos; alimentação; descanso; uso de
medicamentos; dentre mais alguns fatores que são os responsáveis,
cada um em seu grau, pelo resultado de sucesso ou ao pleno fracasso
de nossos objetivos.
Em outras palavras, não será apenas a prática de 300, 400 ou 500
abdominais por dia que o levará ao abdome sequinho, sem gordura e
completamente forte e tonificado.
Etapas Para Perder a Barriga
A partir disso, atemo-nos a algumas etapas a seguir para o alcance
da meta desejada (note que estes são conselhos deste que vos
escreve, não constituindo fórmula básica a todos os indivíduos):
1 - Exames Endocrinológicos: ao consultar um endocrinologista,
observado seus objetivos, alguns exames poderão diagnosticar a
existência, ou não, de distúrbios hormonais que afetam diretamente
o processo de acúmulo de gordura abdominal.
Dentre eles, o exame que mede os níveis de TSH, Cortisol, gH e
iGF1, poderão indicar se existe alguma irregularidade.
Na obesidade abdominal existe o aumento do número de adipócitos
(células de gordura) produtores de substâncias que controlam o
apetite, os níveis hormonais e o processo inflamatório, tais como:
o fator de necrose tumoral (TNF-alfa) e o PAI-1 (inibidor da
ativação do plasminogênio tipo 1).
Estas moléculas (citosinas) causam estragos ao metabolismo
porque agravam o estado inflamatório e aumentam o apetite,
diminuindo a queima de gordura e elevando
consideravelmente os hormônios relacionados ao estresse
(Wajchenberg, 2000).
Consequentemente, mais Cortisol na corrente sanguínea = tendência
ao aumento da adiposidade abdominal.
2 - Avaliações de Composição Corporal e Física Postural: pode
acontecer (muito embora não tenha tanta incidência quanto outras
possibilidades) de que a "barriga" protuberante seja a chamada
ptose abdominal, que nada mais é do que a projeção do abdome.
Algumas vezes vem acompanhada de deslocamento de alguns órgãos
internos, conforme o tempo de ocorrência desta irregularidade
postural. Todavia, vale a pena ater-se ao fato de que "não é
gordura".
Isso acontece geralmente com mulheres que tiveram gestações sem
os devidos cuidados físicos posturais. O treinamento com correção
postural ajuda a amenizar o problema.
A Avaliação de Composição Corporal por sua vez, irá quantificar (de
maneira aproximada) o quanto de acúmulo de gordura existe na região
abdominal, o que poderá auxiliar no diagnóstico de possíveis
fatores de risco para problemas cardíacos, além de servir como
excelente referência para o acompanhamento do treino.
3 - Treinamento Específico para Abdome: talvez até mais do que os
outros músculos, o abdome é muito exigido durante a prática de
quase todos os exercícios de musculação. Por esse motivo, é um
músculo que tem certa resistência e que necessita de atenção
especial na hora de exercitá-lo.
Dessa forma, para quem ainda é iniciante, a realização de um tipo
de exercício abdominal é suficiente.
Para os intermediários e avançados, aconselha-se a
realização de exercícios variados que contemplem angulações
diferentes nos movimentos (p.ex: elevação de coxa; abdominal
declinado).
Para ambos estágios de treinamento (iniciantes e avançados), a
conciliação com treinos de corrida é um fator importante, o que
pode contribuir muito na diminuição do percentual de gordura
corporal total.
No que concerne ao envolvimento dos exercícios específicos para
abdominal (sobre a predominância aeróbia e anaeróbia), aos
princípios para a elaboração da série de treino de abdômen e a
importância do aumento da TMB na diminuição do percentual de
gordura, será necessário um artigo a parte, onde serão expostos
quais os tópicos que deverão ser levados em conta na hora da
montagem do treinamento com abdominais.
A fórmula continua a mesma:
Treino Intenso + Alimentação Equilibrada + Bom Descanso =
Bons Resultados